Descoberta Necrópole de 3.000 Anos em Abu Dhabi
Uma impressionante descoberta arqueológica na região de Al Ain, em Abu Dhabi, lançou nova luz sobre um dos períodos mais enigmáticos da história dos Emirados Árabes Unidos: a Idade do Ferro. Uma equipe do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi (DCT Abu Dhabi) revelou a existência de uma vasta necrópole com cerca de 3.000 anos, considerada o primeiro cemitério significativo da Idade do Ferro descoberto no país.
A Redescoberta de um Passado Oculto
Localizado nas proximidades do oásis de Qattara, o sítio arqueológico abriga mais de 100 túmulos escavados em câmaras ovais subterrâneas, construídas através de um poço vertical com cerca de dois metros de profundidade, seguido por escavações laterais. A ausência de marcadores superficiais explica por que tais sepulturas permaneceram ocultas por milênios, escapando inclusive à atenção de pesquisadores e populações locais.
Apesar de muitos túmulos terem sido saqueados há séculos, os arqueólogos conseguiram recuperar vestígios humanos frágeis e um rico acervo de artefatos funerários, incluindo joias de ouro, contas ornamentais, recipientes de cerâmica, armas de liga de cobre, navalhas, recipientes cosméticos de concha, pulseiras e anéis. Um dos objetos mais notáveis é uma pequena taça de cobre decorada com um pássaro esculpido – um exemplo claro da sofisticação artística da época.
Novos Olhares Sobre a Idade do Ferro
A descoberta é especialmente significativa por lançar luz sobre um período histórico até então pouco compreendido nos Emirados. Enquanto práticas funerárias da Idade do Bronze e do Período Pré-Islâmico Tardio são relativamente bem documentadas, os costumes funerários da Idade do Ferro permaneciam como uma peça ausente no quebra-cabeça arqueológico da região.
Segundo Tatiana Valente, arqueóloga de campo do DCT Abu Dhabi, esta necrópole oferece uma nova perspectiva sobre a evolução das práticas funerárias locais. Exames laboratoriais de DNA, análises isotópicas e estudos osteoarqueológicos ajudarão a determinar a idade, o sexo, o estado de saúde e até mesmo padrões migratórios e relações familiares entre os sepultados.
A presença de sepultamentos duplos, incluindo adultos e crianças, também levanta questões sobre possíveis transformações nas estruturas sociais da época, com indícios de transição de túmulos coletivos para sepulturas individuais.
Agricultura, Engenharia e Espiritualidade
A descoberta está diretamente ligada a um período de expansão agrícola e desenvolvimento urbano em Al Ain, impulsionado pela invenção do falaj, um sistema de aqueduto subterrâneo que permitiu a irrigação eficiente em uma região desértica. Este avanço não apenas transformou a paisagem com o surgimento de vilas, fortalezas, jardins e templos, como também possibilitou a consolidação de comunidades agrícolas sofisticadas.
Segundo relatos dos arqueólogos, o conhecimento técnico sobre o solo pode ter influenciado diretamente a construção dos túmulos, revelando uma relação intrínseca entre engenharia hidráulica e práticas rituais.
Valorização do Patrimônio Cultural
Esta necrópole faz parte do projeto “Paisagens Funerárias de Al Ain”, iniciado em 2024, que visa investigar o crescente número de tumbas pré-históricas identificadas durante obras de construção civil, incluindo escavações na fronteira com Omã. O sítio está localizado dentro dos Sítios Culturais de Al Ain, reconhecidos como Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2011, destacando-se por seu valor histórico universal.
Para Jaber Saleh Al Merri, diretor do Departamento de Ambiente Histórico do DCT Abu Dhabi, esta descoberta “preenche uma lacuna crítica no conhecimento sobre os Emirados antigos e oferece evidências tangíveis que aproximam a sociedade moderna dos modos de vida e crenças daqueles que viveram ali há três milênios.”
O Legado de Al Ain
O impacto desta descoberta transcende os limites da arqueologia. Ao revelar artefatos únicos, técnicas construtivas e indícios de complexas interações sociais e comerciais — incluindo possíveis trocas com comunidades no atual território do Irã —, o sítio lança uma nova luz sobre a identidade cultural do povo emiradense.
A pesquisa continua com expectativa de novas escavações e análises laboratoriais. Para arqueólogos como Valente e o assistente arqueológico Saif Albusaeedi, este projeto representa não apenas um feito profissional, mas também uma missão pessoal de resgate e preservação do passado.
FAQ – Perguntas Frequentes
Qual é a importância da descoberta da necrópole em Al Ain?
Ela representa a primeira grande evidência de práticas funerárias da Idade do Ferro nos Emirados Árabes Unidos, preenchendo uma lacuna histórica importante.
O que foi encontrado nos túmulos?
Artefatos como joias de ouro, armas, recipientes cerâmicos, cosméticos, contas, anéis, pulseiras e utensílios rituais.
Como eram construídos os túmulos?
Cavava-se um poço vertical de cerca de 2 metros, seguido por uma escavação lateral em forma oval, com entrada selada por tijolos de barro ou pedras.
Qual era a função do sistema falaj?
Era um sistema de irrigação subterrâneo que possibilitou a expansão da agricultura na região desértica de Al Ain.
Qual é o próximo passo da pesquisa?
Análises de DNA e isotópicas para entender a saúde, dieta, relações familiares e migrações dos antigos habitantes.