História do Brasil

Lampião: O Criminoso que Assombrou o Sertão Nordestino

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, é uma figura infame na história do Brasil. Nascido em 7 de junho de 1898, em Serra Talhada, Pernambuco, ele liderou o cangaço, um movimento de banditismo que aterrorizou o sertão nordestino entre os séculos XIX e XX. Longe de ser um herói ou símbolo de resistência, Lampião foi um criminoso cruel, responsável por saques, assassinatos e extorsões. Este artigo detalha sua vida, desmontando mitos e expondo o impacto devastador de suas ações.

O Contexto Histórico do Cangaço no Nordeste

As Origens do Banditismo no Sertão

O cangaço não surgiu por acaso. No início do século XX, o sertão nordestino era uma região de extrema desigualdade social. Coronéis controlavam vastas terras, enquanto secas frequentes e a ausência do Estado deixavam a população em miséria.

Nesse cenário, grupos armados começaram a aparecer, muitas vezes motivados por vinganças ou pela luta pela sobrevivência. Porém, o que poderia ter sido uma reação às injustiças logo se transformou em banditismo puro, com ataques a vilarejos e fazendas.

A Juventude de Virgulino

Virgulino nasceu em uma família de lavradores com posses modestas. Seu pai, José Ferreira da Silva, garantiu que ele fosse alfabetizado, um processo rápido que levou apenas três meses. Na adolescência, Lampião trabalhava como almocreve ao lado do pai, conduzindo caravanas de burros carregadas de mercadorias pelo sertão.

Ele também tinha hobbies típicos da região, como tocar sanfona, participar de vaquejadas e trabalhar com couro. Essas habilidades, porém, não eram sinais de virtude. Elas se tornaram ferramentas práticas para sua futura vida de crimes, dando-lhe conhecimento das rotas do sertão e uma rede de contatos que mais tarde exploraria como cangaceiro.

De Filho a Criminoso: O Início de Lampião

O Conflito com Zé Saturnino

A vida da família Ferreira mudou drasticamente a partir de 1915. José Alves de Barro, conhecido como Zé Saturnino, começou a ganhar poder político em Serra Talhada. Vizinho de José Ferreira, ele entrou em uma disputa acirrada por terras na região da ribeira de São Domingos.

Zé Saturnino usou sua influência para pressionar os Ferreira, que tinham menos peso político. Desentendimentos entre os filhos de José Ferreira, incluindo Virgulino, e Saturnino escalaram o conflito. Forçado a se mudar várias vezes para evitar a hostilidade, José Ferreira viu sua família empobrecer a cada tentativa de fuga.

Bando de lampião
Bando de lampião

Em 18 de maio de 1921, a tragédia culminou com o assassinato de José Ferreira pela polícia, um evento ligado às tensões com Saturnino. Virgulino, então com 23 anos, escolheu a vingança em vez da justiça, um passo decisivo rumo ao cangaço.

A Entrada no Banditismo

Em 1921, Virgulino juntou-se ao bando de Sinhô Pereira, um cangaceiro experiente do Nordeste. Sob a tutela de Pereira, ele aprendeu táticas de sobrevivência, como esconder rastros e evitar confrontos diretos com a polícia.

Em julho de 1922, Sinhô Pereira abandonou o cangaço, e Lampião assumiu a liderança do grupo. A partir daí, ele começou a construir sua reputação como um dos criminosos mais temidos do sertão.

O Reinado de Terror no Sertão

O Primeiro Grande Crime: Ataque à Baronesa

Logo após assumir o comando, Lampião liderou seu primeiro grande ataque em 26 de junho de 1922, em Água Branca, Alagoas. Com cerca de 50 homens, ele invadiu a casa da Baronesa de Água Branca, uma rica proprietária ligada às elites locais.

O assalto foi motivado por vingança contra as autoridades que apoiavam a Baronesa e por ganância. O bando levou bens valiosos, e o evento ganhou destaque nos jornais, que descreveram Lampião como um dos piores criminosos de Alagoas. Esse foi o início de sua notoriedade.

A Brutalidade em Mossoró

Qual foi o maior crime de Lampião? O massacre após Mossoró é um forte candidato, com relatos de atrocidades que chocaram o Nordeste.

No ataque a Mossoró, Rio Grande do Norte. Lampião planejava saquear a cidade, mas foi repelido por uma resistência organizada de moradores e polícia.

Furioso com a derrota, ele retaliou contra comunidades próximas. Casas foram queimadas, e moradores foram mortos ou mutilados.

Colaboração com os Coronéis

Ao contrário do mito de que combatia os poderosos, Lampião frequentemente negociava com os coronéis. Em troca de proteção e suprimentos, ele poupava suas propriedades. Essa relação mostra seu pragmatismo: ele não queria derrubar o sistema, mas lucrar com ele.

A Crueldade como Estratégia

A brutalidade era sua marca. Lampião torturava prisioneiros, arrancando olhos ou cortando línguas para intimidar adversários. Em um caso famoso, ordenou que um agricultor fosse queimado vivo por não pagar uma extorsão. O medo era sua principal arma.

Por que Lampião é considerado o “rei do cangaço”? Ele elevou esse fenômeno a um nível de organização e brutalidade sem precedentes, atuando em sete estados – Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Sergipe e Bahia – e espalhando terror por onde passava.

Maria Bonita e a Vida Pessoal

O Encontro com Maria Bonita

Em 1929, Lampião conheceu Maria Gomes de Oliveira, mais tarde chamada Maria Bonita, em Jeremoabo, Bahia. Casada na época, ela abandonou o marido para se juntar ao bando em 1930.

Lampião e Maria Bonita
Lampião e Maria Bonita

Maria não era apenas uma companheira. Ela carregava armas e participava dos ataques, tornando-se cúmplice ativa nos crimes de Lampião.

A Filha Expedita

Em 1932, o casal teve uma filha, Expedita, que foi entregue a parentes para ser criada longe do cangaço. Apesar da paternidade, Lampião não mudou seu comportamento. Sua vida continuou sendo de violência e banditismo.

Como Lampião usou sua inteligência para o crime? Ele transformou habilidades práticas – como as rotas aprendidas como almocreve – e contatos em uma rede eficiente de extorsão e terror, sempre em benefício próprio.

O Declínio e a Morte de Lampião

A Ofensiva do Estado

Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas decidiu acabar com o cangaço. As “volantes”, tropas móveis especializadas, foram criadas para perseguir os cangaceiros. Equipadas essas tropas encurralaram Lampião, já debilitado por uma infecção ocular que comprometia sua visão. 

A Emboscada em Angico

O fim veio em 28 de julho de 1938, em Angico, Sergipe. Lampião foi traído por um coiteiro, Pedro de Cândido, que revelou sua localização. Uma volante, liderada pelo tenente João Bezerra, atacou o bando na madrugada.

Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros foram mortos no confronto. Seus corpos foram decapitados, e as cabeças expostas em praças públicas, como Maceió e Recife, como prova de sua derrota.

Alguns especulam que ele foi envenenado antes do ataque ou que fugiu e viveu escondido. Porém, essas teorias não têm respaldo histórico. A emboscada em Angico é o fato aceito, marcando o fim de seu reinado de terror.

O Legado de Lampião: Crime, Não Heroísmo

A Mitificação Pós-Morte

Após sua morte, Lampião foi romantizado em cordéis, músicas e filmes. Alguns o chamam de “justiceiro do sertão”, mas isso é uma distorção. Ele não ajudava os pobres; ele os explorava.

Por que Lampião é considerado o “rei do cangaço” até hoje? Sua fama vem da astúcia e da violência, não de atos nobres. Historiadores como Frederico Pernambucano de Mello, em Guerreiros do Sol, mostram que ele era um líder esperto, mas sem ideais além do lucro.

O Impacto Negativo no Sertão

O legado de Lampião é de destruição. Seus ataques atrasaram o progresso do Nordeste, deixando vilarejos em ruínas e traumas que perduraram por gerações. Ele perpetuou a miséria, não a combateu. 

Conclusão: Um Criminoso, Não um Herói

Lampião foi um bandido, não um salvador. Sua inteligência e habilidades serviram ao crime, não ao bem. Entender sua história é rejeitar os mitos e reconhecer as vítimas de sua violência.

Qual sua opinião sobre os crimes de Lampião? Acha que ele foi mais do que um criminoso? Deixe um comentário com sua visão e participe da discussão!

Fernando Rocha

Fernando Rocha, formado em Direito pela PUC/RS e apaixonado por história, é o autor e criador deste site dedicado a explorar e compartilhar os fascinantes acontecimentos do passado. Ele se dedica a pesquisar e escrever sobre uma ampla gama de tópicos históricos, desde eventos políticos e culturais até figuras influentes que moldaram o curso da humanidade."

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