Gustav Franz Wagner: A Besta de Sobibor no Brasil
Gustav Franz Wagner, apelidado de “A Besta de Sobibor,” foi um notório oficial nazista conhecido por sua extrema crueldade como subcomandante do campo de extermínio de Sobibor, onde supervisionou a morte de milhares de judeus. Após a Segunda Guerra Mundial, Wagner fugiu para o Brasil utilizando uma rede de fuga nazista e viveu sob o pseudônimo de Günther Mendel. Sua identidade foi descoberta na década de 1970, levando à sua prisão e a uma intensa disputa internacional sobre sua extradição.
Primeiros Anos e Ascensão no Partido Nazista
Gustav Franz Wagner nasceu em 18 de julho de 1911, em Viena, Áustria, e cresceu durante um período tumultuado na história europeia. Pouco se sabe sobre sua infância e adolescência, mas como muitos jovens austríacos da época, ele foi profundamente influenciado pelo nacionalismo crescente e pelas dificuldades econômicas após a Primeira Guerra Mundial. A instabilidade política e social da Áustria nas décadas de 1920 e 1930 criou um terreno fértil para a disseminação das ideologias fascistas e nazistas.
Wagner se juntou à Schutzstaffel (SS), a organização paramilitar de elite do Partido Nazista, em busca de poder, estabilidade e um senso de propósito. Sua adesão ao Partido Nazista não apenas refletia suas convicções políticas, mas também proporcionava uma oportunidade de ascensão social e econômica. Na SS, ele se destacou pela sua disciplina rigorosa e pela disposição para cumprir ordens sem questionamentos, características que rapidamente chamaram a atenção de seus superiores.
Antes de sua transferência para Sobibor, Wagner passou por um rigoroso treinamento nas fileiras da SS, onde aprendeu técnicas de controle e eliminação de populações indesejáveis. Seu compromisso com a ideologia nazista e sua disposição para a violência o tornaram um candidato ideal para as operações da “Solução Final”. Wagner foi designado inicialmente para servir em campos menores e participou da Operação T4, o programa de eutanásia nazista que visava eliminar indivíduos considerados “indignos de viver”.
Em março de 1942, Wagner foi transferido para o campo de extermínio de Sobibor, localizado na Polônia ocupada, onde se tornou o subcomandante do campo, servindo sob o comando de Franz Stangl.
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O trabalho de Gustav Franz Wagner em Sobibor
Como subcomandante de Sobibor, sua responsabilidade incluía a supervisão das operações diárias do campo, a seleção das vítimas para as câmaras de gás e a manutenção da ordem entre os prisioneiros. Wagner foi um dos principais responsáveis pela implementação da política de extermínio em massa, e seu nome tornou-se sinônimo de terror para aqueles que foram enviados para Sobibor.
Os relatos de sobreviventes de Sobibor pintam um quadro sombrio da crueldade de Wagner que rendeu o apelido de a Besta de Sobibor. Ele era conhecido por sua brutalidade e sádica falta de compaixão. Testemunhas descreveram-no como uma figura autoritária que não hesitava em matar prisioneiros por mero capricho. Uma das práticas mais cruéis atribuídas a Wagner era a seleção das vítimas que seriam enviadas para as câmaras de gás. Ele frequentemente fazia essas seleções de maneira arbitrária, demonstrando um completo desprezo pela vida humana.
Um sobrevivente, Thomas Blatt, descreveu Wagner como um homem que “matava sem qualquer emoção, como se estivesse apenas cumprindo uma tarefa rotineira”. Blatt relatou que Wagner costumava fazer inspeções no campo com seu cachorro, e qualquer prisioneiro que não se movesse rapidamente ou mostrasse o menor sinal de resistência era morto imediatamente.
Há inúmeros relatos específicos que exemplificam a crueldade de Wagner. Em uma ocasião, ele matou um grupo de crianças judias que estavam chorando ao serem separadas de suas mães. Testemunhas disseram que ele pegou as crianças e as jogou vivas em uma vala, onde foram enterradas enquanto ainda estavam respirando.
Em outro incidente, um prisioneiro que havia tentado escapar foi capturado e trazido de volta ao campo. Wagner ordenou que todos os prisioneiros se reunissem para assistir à execução do homem. Ele forçou o prisioneiro a cavar sua própria sepultura antes de atirar nele na frente de todos. Este ato não apenas serviu como uma punição, mas também como uma tática de intimidação para desencorajar outros prisioneiros de tentar escapar.
A Revolta de Sobibor
A brutalidade de Wagner e de outros oficiais nazistas eventualmente levou à revolta de Sobibor, um dos poucos atos de resistência bem-sucedidos em campos de extermínio nazistas. Em 14 de outubro de 1943, um grupo de prisioneiros, liderado por Alexander Pechersky, organizou uma revolta que resultou na morte de vários guardas do campo e na fuga de aproximadamente 300 prisioneiros.
Wagner não estava presente no campo no dia da revolta, o que provavelmente contribuiu para o sucesso dos prisioneiros em surpreender os guardas. No entanto, a revolta teve um custo elevado, com muitos prisioneiros sendo recapturados e mortos posteriormente. A revolta marcou o início do fim de Sobibor, que foi desmantelado pouco depois.
A Besta de Sobibor no Brasil
Após o colapso da Alemanha Nazista em 1945, Gustav Franz Wagner, um dos mais cruéis perpetradores do Holocausto, conseguiu escapar da captura e desapareceu por muitos anos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais nazistas procuraram maneiras de fugir da justiça. Wagner foi um deles, utilizando uma rede de fuga conhecida como “Ratlines”, que facilitava a evasão de criminosos de guerra nazistas para fora da Europa. Essas redes, frequentemente operadas por simpatizantes nazistas e membros do clero católico, ajudaram muitos a encontrar refúgio em países da América Latina.
Wagner conseguiu chegar ao Brasil, onde adotou o pseudônimo de Günther Mendel. O Brasil, durante essa época, tornou-se um destino popular para muitos nazistas fugitivos devido à sua política relativamente permissiva de imigração e à presença de comunidades de simpatizantes nazistas. Além de Wagner, o Brasil atraiu outros notórios criminosos de guerra como Josef Mengele, Herbert Cukurs e o próprio Franz Stangl, comandante de Sobibor.
Wagner estabeleceu-se na cidade de Atibaia, no estado de São Paulo, onde viveu uma vida relativamente tranquila e anônima. Ele trabalhou em várias ocupações, incluindo como operário de construção e fazendeiro, conseguindo evitar a atenção das autoridades e da comunidade internacional por mais de duas décadas.
A identidade de Wagner permaneceu desconhecida até que, na década de 1970, sobreviventes do Holocausto e caçadores de nazistas começaram a identificar e rastrear antigos oficiais nazistas que haviam fugido para a América do Sul. Em 30 de maio de 1978, Wagner foi finalmente localizado e preso pela polícia brasileira após ser identificado. Sua prisão atraiu atenção internacional e gerou um clamor por justiça, com Israel, Áustria e a Alemanha Ocidental exigindo sua extradição para enfrentar julgamento por seus crimes de guerra.
O processo de extradição, no entanto, revelou-se complicado e controverso. A legislação brasileira da época proibia a extradição de estrangeiros para crimes políticos, e a defesa de Wagner argumentou que seus crimes, cometidos enquanto oficial nazista, eram de natureza política. Em 1979, o Supremo Tribunal Federal do Brasil negou os pedidos de extradição, decidindo que os crimes de Wagner não eram passíveis de extradição sob a lei brasileira vigente. Esta decisão gerou indignação global, especialmente entre as comunidades judaicas e os sobreviventes do Holocausto, que viam a decisão como uma grave injustiça.
A morte de Gustav Franz Wagner
Em 3 de outubro de 1980, Wagner foi encontrado morto em sua casa em Atibaia. As circunstâncias de sua morte foram controversas. A polícia brasileira relatou que ele havia cometido suicídio, mas muitos acreditam que ele pode ter sido assassinado, seja por antigos aliados nazistas temendo que ele pudesse revelar informações comprometedoras, seja por vingança de sobreviventes do Holocausto ou seus apoiadores.
A morte de Wagner encerrou a possibilidade de um julgamento que poderia ter exposto ainda mais detalhes sobre suas atrocidades em Sobibor e outros campos de concentração. A fuga de Wagner e sua subsequente vida no Brasil destacam as falhas e as complexidades do sistema internacional de justiça pós-guerra, sublinhando a dificuldade de capturar e julgar todos os responsáveis pelos horrores do Holocausto.