Revolução Chinesa (1911-1949)
A Revolução Chinesa foi um evento histórico que culminou na fundação da República Popular da China em 1949. Marcada por conflitos e transformações políticas, sociais e econômicas, a revolução foi liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), sob a liderança de Mao Zedong (ou Mao Tse-tung). Iniciando com a queda da Dinastia Qing em 1911, o processo revolucionário passou por uma guerra civil entre o PCC e o Kuomintang, culminando na vitória comunista em 1949.
Contexto histórico pré-revolução chinesa
O contexto histórico que precedeu a Revolução Xinhai na China, também conhecida como Revolução de 1911, foi marcado por uma série de desafios políticos, sociais e econômicos que minaram a estabilidade do Império Qing, a última dinastia imperial que governou a China.
No início do século XX, o Império Qing enfrentava crescentes pressões externas de países ocidentais, como a Grã-Bretanha, França, Alemanha e Japão, que buscavam explorar as riquezas naturais e impor tratados desiguais à China. Essas pressões resultaram em humilhação e insatisfação generalizada entre a população, alimentando um crescente sentimento nacionalista e anticolonialista.
Internamente, o governo Qing estava enfraquecido pela corrupção e ineficiência administrativa. As revoltas camponesas eram frequentes devido às condições precárias e altos impostos, enquanto a classe média emergente clamava por reformas políticas e sociais para modernizar o país.
Movimentos intelectuais e ideológicos ganharam força, inspirados por ideias democráticas e liberais provenientes do Ocidente. Líderes reformistas, como Kang Youwei e Liang Qichao, advogaram por uma reforma radical da estrutura política e social chinesa para evitar o colapso do império.
A insatisfação popular e o crescente nacionalismo levaram a uma série de revoltas e levantes em todo o país, com destaque para o Movimento dos Boxers em 1900, que visava expulsar estrangeiros do país. Embora esse movimento tenha sido reprimido pelas forças ocidentais e japonesas, ele despertou ainda mais o sentimento nacionalista entre os chineses.
Foi nesse cenário de agitação e insatisfação que a Revolução Xinhai finalmente eclodiu em 10 de outubro de 1911.
Revolução Xinhai e a queda da Dinastia Qing (1911-1912)
A Revolução Xinhai teve início em Wuchang, na província de Hubei em 10 de outubro de 1911.
O levante foi liderado por um grupo de revolucionários, incluindo Sun Yat-sen, que fundou o Kuomintang (KMT), um partido político que desempenharia um papel central na busca pela unificação da China e na condução da revolução.
O movimento se espalhou rapidamente para outras partes do país, com levantes e revoltas ocorrendo em várias províncias. As forças revolucionárias obtiveram o apoio de figuras importantes, como militares dissidentes e membros da elite local, ampliando a base de apoio à revolução.
Em 12 de fevereiro de 1912, o imperador Puyi, da Dinastia Qing, abdicou ao trono, marcando oficialmente o fim da dinastia imperial de mais de 2.000 anos. Essa abdicação resultou na proclamação da República da China em 1º de janeiro de 1912, com Sun Yat-sen sendo empossado como o primeiro presidente interino.
A queda da Dinastia Qing e o estabelecimento da República da China trouxeram uma série de mudanças significativas para a sociedade chinesa. A nova república buscou modernizar o país, abolindo práticas feudais e promovendo ideais democráticos e liberais. No entanto, a instabilidade política persistiu e a república enfrentou desafios internos e externos.
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Era dos Senhores da Guerra e o Kuomintang (1912-1927)
Após a Revolução Xinhai e a queda da Dinastia Qing em 1912, a China entrou em um período de turbulência política conhecido como a Era dos Senhores da Guerra. Esse período, que se estendeu até 1927, foi caracterizado pela fragmentação política e pelo enfraquecimento central do poder, com diferentes líderes regionais, conhecidos como Senhores da Guerra, controlando suas próprias áreas de influência.
Após a proclamação da República da China, o Kuomintang (KMT), liderado por Sun Yat-sen, emergiu como um partido político proeminente que buscava unificar a China e estabelecer um governo central forte e estável. O KMT, também conhecido como Partido Nacionalista, visava modernizar a China, adotando ideais democráticos e liberais inspirados pelo pensamento ocidental.
No entanto, o KMT enfrentou desafios significativos. Após a morte de Sun Yat-sen em 1925, o partido entrou em uma fase de luta interna pelo poder. O general Chiang Kai-shek emergiu como o novo líder do KMT e logo se tornou o comandante supremo do Exército Nacional Revolucionário.
Nesse contexto, a China estava dividida em várias facções lideradas por diferentes Senhores da Guerra. Esses líderes regionais controlavam seus próprios exércitos e regiões, competindo pelo poder e recursos. A fragmentação política e a falta de um governo central forte resultaram em uma instabilidade generalizada em todo o país.
O Kuomintang, liderado por Chiang Kai-shek, buscou consolidar sua posição e unificar a China. Em 1926, o KMT formou uma aliança com o Partido Comunista Chinês (PCC) com o objetivo de combater os Senhores da Guerra e os interesses estrangeiros. Essa aliança temporária, conhecida como a Primeira Frente Unida, foi bem-sucedida em várias campanhas militares contra os Senhores da Guerra.
Em 1927, Chiang Kai-shek rompeu com o Partido Comunista Chinês (PCC) e lançou uma repressão conhecida como “Massacre de Xangai”. Isso marcou o início de um conflito entre o KMT e o PCC que perdurou por décadas.
A União do KMT e do PCC Contra a Invasão Japonesa
Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), a União Nacionalista do Kuomintang (KMT) e o Partido Comunista Chinês (PCC) estabeleceram uma aliança temporária contra a invasão japonesa. Esse período foi marcado pela cooperação entre os dois partidos em um esforço conjunto para resistir à agressão japonesa e defender a soberania chinesa.
Embora o KMT e o PCC tivessem sido rivais e enfrentassem conflitos anteriores, a invasão japonesa trouxe uma nova dinâmica para suas relações. Em 1937, o Japão lançou uma grande ofensiva militar contra a China, que rapidamente ganhou controle de várias regiões importantes do país.
Diante dessa ameaça externa, o líder do KMT, Chiang Kai-shek, e o líder do PCC, Mao Zedong, perceberam a necessidade de deixar suas diferenças de lado e unir forças para enfrentar o inimigo comum. Em dezembro de 1937, foi estabelecida a Segunda Frente Unida, uma coalizão militar entre o KMT e o PCC.
Essa aliança possibilitou a coordenação das forças militares dos dois partidos e uma resistência mais eficaz contra os invasores japoneses. Apesar de divergências ideológicas e desconfianças mútuas, a cooperação entre o KMT e o PCC foi essencial para a resistência chinesa durante a guerra.
No entanto, mesmo com essa união temporária, as tensões entre os dois partidos persistiram e, após o fim da Segunda Guerra Mundial e da derrota do Japão, a Guerra Civil Chinesa foi retomada.
Guerra Civil Chinesa (1946-1949)
Após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, as hostilidades entre o PCC e o KMT foram retomadas. As duas partes já haviam se enfrentado anteriormente, durante a década de 1920 e no início dos anos 1930, antes de estabelecerem uma trégua temporária para combater a invasão japonesa.
A Guerra Civil Chinesa foi um conflito ideológico e político. O PCC buscava a instauração de um regime comunista, com maior igualdade social e reformas agrárias. Por outro lado, o KMT defendia uma China nacionalista e capitalista, buscando manter a unidade e a estabilidade do país.
O PCC conseguiu ganhar apoio popular ao apresentar-se como uma força revolucionária que prometia acabar com a corrupção e com as desigualdades sociais. Além disso, sua eficiente estratégia de guerrilha lhe permitiu expandir sua influência em áreas rurais, onde grande parte da população era composta por camponeses.
Por outro lado, o KMT enfrentou dificuldades financeiras, corrupção interna e um exército mal treinado. A resistência do KMT contra o PCC foi enfraquecida, e a liderança de Chiang Kai-shek não conseguiu consolidar o apoio popular necessário para enfrentar os comunistas.
Em 1949, após quase quatro anos de intensos combates, o PCC emergiu vitorioso. O KMT foi forçado a recuar para a ilha de Taiwan, onde estabeleceu a República da China. Enquanto isso, em 1º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China em Pequim, estabelecendo o governo comunista no continente.