O Anjo de Hamburgo: A Brasileira que Salvou Judeus do Holocausto
Aracy de Carvalho ou Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1914-2011) foi uma brasileira que ficou conhecida como o Anjo de Hamburgo, por sua coragem e bondade durante a Segunda Guerra Mundial, quando ajudou a salvar centenas de judeus do Holocausto.
Anos iniciais
Nascida em São Paulo em 1914, Aracy se formou em Letras e trabalhou como escriturária em diversos órgãos públicos. Em 1938, ela conheceu o escritor João Guimarães Rosa, com quem se casou em 1940. Na época, Guimarães Rosa trabalhava como cônsul brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, e Aracy o acompanhou para lá.
O papel na Segundo Guerra Mundial que lhe rendeu o apelido de Anjo de Hamburgo
Em 1941, a Alemanha nazista começou a perseguir os judeus de forma ainda mais intensa, e muitos procuraram refúgio em outros países. Aracy, que já tinha simpatia pelos judeus, se sensibilizou com a situação e começou a ajudar os refugiados a obter vistos para o Brasil, que era um dos poucos países que ainda os concedia.
Aracy foi além: ela usou sua posição no consulado para emitir vistos falsos para centenas de judeus, salvando-os da morte certa nos campos de concentração nazistas. Muitos desses vistos foram emitidos em nome do próprio Guimarães Rosa, que concordou em emprestar seu nome e cargo em prol da causa.
Seu trabalho não se limitou apenas à emissão de vistos falsos, mas ela também forneceu abrigo e ajuda financeira aos judeus perseguidos, colocando sua própria vida em risco. Ela também usou seu cargo no consulado para alertar os judeus sobre as investigações nazistas e ajudá-los a fugir.
Aracy também contou com a ajuda do vice-cônsul brasileiro em Hamburgo, Luiz Martins de Souza Dantas, que era um grande defensor dos direitos humanos e já havia ajudado a salvar judeus durante a Primeira Guerra Mundial. Juntos, eles conseguiram emitir cerca de 200 vistos falsos antes de serem descobertos pelas autoridades nazistas.
Quando os nazistas descobriram o esquema de Aracy e Dantas, eles foram presos e interrogados. Aracy chegou a ser ameaçada de morte, mas manteve sua coragem e se recusou a revelar os nomes dos judeus que havia ajudado. Ela foi deportada de volta ao Brasil, enquanto Dantas foi transferido para outra cidade alemã.
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Reconhecimento dos atos de Aracy
Os atos de Aracy começaram a ganhar luz apenas em 1980, quando uma alemã judia que fugiu para o Brasil começou a divulgar os feitos de Aracy.
Aracy e Dantas foram reconhecidos como Justos entre as Nações pelo Yad Vashem, o memorial do Holocausto em Israel, em 1982 e 2003, respectivamente. O título é dado a não-judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto. Dantas e Aracy foram os únicos brasileiros agraciados com o título.
Sua história foi retratada no documentário “Esse Viver Ninguém Me Tira”, lançado em 2014, dirigido por Caco Ciocler. O documentário é baseado em entrevistas com Aracy gravadas em 2003, pouco antes de sua morte, e combina essas entrevistas com imagens de arquivo, fotografias e depoimentos de pessoas que conheceram Aracy e foram influenciadas por sua história de coragem e bondade durante a Segunda Guerra Mundial.
Já em 2019, os correios emitiram um selo comemorativo para homenagear Aracy:
Em 2020, a Globo lançou a serie “Passaporte para Liberdade”, onde Aracy tem um papel central no desenvolvimento da trama.
Pós guerra
Após a guerra, Aracy e Guimarães Rosa se separaram, e ela voltou a trabalhar como escriturária. Ela nunca buscou reconhecimento público por suas ações durante a guerra.
Embora Aracy tenha mantido suas ações em segredo por muitos anos, sua história veio à tona em 2002, quando uma jornalista brasileira descobriu seus feitos e publicou um livro sobre ela. Desde então, Aracy foi reconhecida como um símbolo de coragem e bondade, e ficou conhecida como o “anjo de Hamburgo” por sua dedicação em salvar vidas durante um dos momentos mais sombrios da história mundial.
Aracy de Carvalho faleceu em 2011, aos 96 anos. Sua história de coragem e bondade inspirou muitas pessoas e mostra que mesmo em tempos de guerra e opressão, ainda há esperança e bondade no coração humano.