Imperador Calígula
Calígula foi um dos imperadores mais famosos da História, em parte por conta da sua fama de cruel, sádico, depravado e louco. Mas será que a fama é verdadeira ou o Imperador foi vítima da História que o retratou de forma inverídica?
O que os estudos mais recentes sobre o Imperador Calígula nos mostra é que sim, ele era cruel e tirano, mas nada muito fora do padrão da dinastia julio-claudiana, porém boa parte da sua fama advém de deturpações históricas promovida por seus inimigos e que perpetuaram até a atualidade.
Anos iniciais de Calígula
Caio Júlio César Germânico nasceu em 31 de agosto de 12 d.C. Filho de Germânico Júlio César, um importante General romano, com Agripina, a velha. Tinha dois irmãos, Druso César e Nero Júlio César Germânico e três irmãs, Júlia Lívila, Júlia Drusila e Júlia Agripina Menor.
Ainda muito jovem, seu pai levava para as campanhas militares romanas e o vestia como um legionário. Virou uma espécie de mascote e foi apelidado pelos soldados de Calígula, que significa “botinhas”, apelido que o Imperador nunca apreciou.
Seu pai era bastante popular em Roma, o que desagradava seu tio, o Imperador Tibério, que via Germânico e seus filhos como uma potencial ameaça ao seu reinado. O pai de Calígula morreu sob circunstâncias estranhas o que levantou muitos rumores de que o Imperador Tibério estaria envolvido em sua morte, o que não ficou comprovado. Contudo, a suspeita foi suficiente para derrubar a popularidade de Tibério, que se viu ainda mais ameaçado.
Em 29 d.C, o Imperador Tibério acusou a mãe de Calígula, Agripina Maior, e o seu irmão, Nero Germânico de traição e os enviou para o exílio onde morreram. Apenas um ano depois, em 30 d.C, o outro irmão de Calígula, Druso Cesar, foi preso, também acusado de traição e morreu de fome na prisão.
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Calígula sabia que poderia ser o próximo alvo de Tibério e historiadores relatam que ele e suas irmãs eram vigiados de perto pela guarda do Imperador.
Em 31 d.C, Calígula é convocado para ir a Capri, onde Tibério estava recluso. Certamente não foi um período fácil para o futuro Imperador, já que nutria enorme ódio por Tibério que matou sua família. Porém, sabiamente Calígula conseguiu dissimular os seus sentimentos e não demonstrar nenhum ódio a Tibério.
De forma surpreendente, Calígula sobreviveu seis anos em Capri, vivendo quase como um prisioneiro do Imperador.
Em 35 d.C, Tibério designou Calígula e seu neto, Tibério Gêmelo como herdeiros do trono.
Tibério morreu em 37 d.C, também sob circunstâncias misteriosas e muitos historiadores defendem que o Imperador foi assassinado por Calígula. Segundo Tácito, Macro que era o Prefeito do Pretório, teria assassinado Tibério para garantir a ascensão de Calígula. Já Suetonio especula que Calígula possa ter sido o autor do assassinato.
Ascensão de Calígula ao posto de Imperador de Roma
Tibério gozava de baixíssimos índices de popularidade, e Roma estava ansiosa para se livrar do Imperador. Com a morte de Tibério, Calígula, filho de um General muito popular em Roma, bisneto do Imperado Augusto, designado como herdeiro ao trono, era a figura perfeita para enterrar de vez o Governo de Tibério.
Foi ovacionado por uma multidão quando entrou em Roma, em 28 de de março de 37 d.C, para assumir o mais alto posto romano. Segundo Fílon, até então, nunca um Imperador teria iniciado seu reinado com uma adoração popular tão grande. E pelo que tudo indica, os primeiros 7 meses do seu reinado foram uma verdadeira lua de mel entre o povo e o novo Imperador.
Calígula concedeu grandes recompensas a Guarda Pretoriana, visando angariar um apoio maciço do exército. Foi muito generoso com o povo de Roma e desfez muitos atos do antigo Imperador, inclusive chamou de volta os exilados que haviam sido acusados de traição por Tibério.
No começo do seu Governo, as irmãs do Imperador, Júlia Lívila, Júlia Drusila e Júlia Agripina Menor, também tiveram um status nunca antes visto em Roma, o que gerou muita especulação de que Calígula tinha relações incestuosas com elas.
Guinada no comportamento de Calígula
Em outubro de 37 d.C, Calígula fica gravemente doente, notícia que deixou o povo de Roma sem chão, pois havia enormes expectativas da população com o seu reinado, muitos afirmando que Roma passaria por um período de bonança similar ao visto com o Imperador Augusto.
Durante o período em que estava se recuperando, seu primo Tibério Gêmelo conspirou para derrubar o Imperador. Calígula ao se recuperar, percebeu que havia risco ao seu trono e determinou a execução de Tibério Gêmelo.
Após recuperar a saúde, o Imperador Calígula nunca mais seria o mesmo. Não se sabe exatamente as razões na guinada de comportamento, mas suspeita-se que possa ter sido uma mudança em decorrência de estar tão perto da morte. Outra possibilidade seria que o Imperador percebeu que seu trono pode ser ameaçado e sua posição é vulnerável. Alguns afirmam que pode até ser estresse pós-traumático, já que viver seis anos em Capri com Tibério sob constante ameaça não deve ter sido nada fácil.
A verdade é que nunca se saberá exatamente as razões por trás da mudança de comportamento de Calígula.
Crise econômica no reinado de Calígula
Como todo Governo populista, Calígula foi extremamente generoso e distribuiu muito dinheiro sem contrapartidas. O dinheiro serviu para comprar o apoio popular e militar, além de alimentar a enorme extravagância de Calígula.
O resultado foi o mesmo que enxergamos hoje com Governos que promovem um descontrole fiscal, uma grave crise econômica se instalou no Império.
A solução encontrada por Calígula também é bem similar a adotada por muitos governantes de hoje, criou impostos sob juízos, casamentos e prostíbulos.
Mitos e verdades sobre Calígula
A um dito popular que diz: a história é sempre contada pelo vencedor. Ao analisarmos o que foi dito pelos historiadores da época, temos que ter em mente que é a versão contada pelos inimigos de Calígula. Hoje os estudos mais recentes desmentem ou pelo menos dão uma outra ótica sobre os acontecimentos.
Incesto com suas irmãs
Calígula tinha três irmãs, Júlia Lívila, Júlia Drusila e Júlia Agripina Menor, e segundo Suetônio, o Imperador mantinha relações sexuais com todas elas, embora tivesse clara preferência por Drusila. O mesmo autor narra, inclusive, que durante banquetes imperiais ele mantinha relações sexuais com suas irmãs na frente dos convidados, deixando todos os presentes horrorizados.
Porém será que é verdade que Calígula mantinha relações incestuosas com suas irmãs?
Difícil afirmar que sim ou que não. Fato é que Calígula conferiu a suas irmãs um status nunca antes visto para irmãs de um Imperador.
Elas receberam os direitos reservados às virgens vestais, como a liberdade de assistir aos jogos nos estádios nos melhores assentos, moedas foram cunhadas com o rosto das irmãs. Além disso, Calígula mandou incluir suas irmãs em suas moções, inclusive os juramentos de lealdade:
“Eu não valorizarei a minha vida ou de meus filhos acima do que valorizo a segurança do imperador e de suas irmãs”
e as consulares:
“Boa fortuna ao imperador e suas irmãs”
Porém, o autor Tácito, que nasceu apenas 15 anos após a morte de Calígula, afirma que sempre houveram boatos de que ele mantinha relações com suas irmãs, porém isso seria apenas especulações, fofocas.
O filósofo Sêneca, que conheceu Calígula, nunca mencionou os tais banquetes descritos por Suetônio, o que sugere, pelo menos, um grande grau de exagero na narrativa do autor.
Calígula nomeou seu cavalo cônsul de Roma
O cavalo Incitatus era o preferido do Imperador, que mandou construir um estábulo de mármore para o animal. Também consta que os guardas tinham que garantir o silêncio nos arredores do estábulo para não perturbar o sono do seu cavalo.
Porém, novamente o autor Suetônio, narra que Calígula era tão insano que nomeou o seu cavalo Incitatus como Consul de Roma e que obrigava os senadores a despacharem no estábulo junto com o animal.
Será que o Imperador era tão louco como Suetônio narra?
Hoje se imagina que há duas possibilidades, como Calígula travava uma guerra pessoal com os senadores de Roma, é possível que ele tenha discursado publicamente que os senadores eram tão débeis que até o seu cavalo poderia ser cônsul de Roma.
Outra hipótese é de que sim, Calígula nomeou o seu cavalo como cônsul de Roma, porém isso não seria um ato de insanidade e sim uma forma de agredir o senado romano e humilhar publicamente os Senadores.
Morte de Calígula
A truculência e a inabilidade política de Calígula lhe custou muitos desafetos e inúmeras tramas para assassiná-lo. Até sua irmã Agripina esteve envolvida em uma conspiração para matar, sem sucesso, o Imperador Calígula, que acabou condenando a irmã ao banimento.
Em 24 de janeiro de 41 d.C, Cássio Quereia e outros pretorianos apunhalaram Calígula até a morte. Segundo Suetônio, o motivo seria as constantes piadas que o Imperador fazia com Quereia, porém especula-se que tenha sido por motivos políticos e que muitos senadores estariam envolvidos na conspiração.
Quereia e o senado tentaram restaurar a república, porém os soldados se mantiveram fiéis ao império. Ao se verem sem nenhum apoio militar, Quereia apunhalou a mulher de Calígula, Milônia Cesônia e a filha dos dois, Júlia Drusila, um bebê que teve o seu crânio esmagado contra uma parede.
Cláudio, tio de Calígula, conseguiu o apoio da Guarda Pretoriana e ascendeu ao trono do Império Romano. Logo após a ascensão, Cláudio determinou a execução de Quereia e os outros assassinos de Calígula.
Filme Calígula de 1979
O filme dirigido por Tinto Brass está, sem dúvida alguma, na lista dos filmes mais polêmicos da história.
A produção itálo-americana é um festival interminável de violência e sexo que choca expectadores que não estão acostumados com conteúdos explícitos. Para poder rodar em muitos países, a produção foi obrigada a cortar cerca de uma hora do filme.
A produção nos mostra a versão de Suetônio, representando Calígula como um louco, pervertido e extremamente violento. Embora a produção seja muito ruim e a narrativa escolhida para representar o Imperador não seja a mais precisa historicamente, vale a pena conferir a produção.
Livros sobre Calígula