Bruxas da Noite – o terror dos nazistas
Bruxas da noite (Nachthexen, em alemão) foi o apelido que as integrantes do 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos recebeu do exército alemão. O apelido surgiu em virtude do som que os aviões planando na escuridão faziam, similares aos de uma vassoura.
O início das Bruxas da Noite
Marina Raskova, foi uma precursora da aviação. Em 1931 ela começou a trabalhar no Laboratório de Aero Navegação da Academia da Força Aérea como projetista e posteriormente se tornou uma famosa aviadora nos anos trinta. Antes mesmo da II Guerra Mundial, Raskova havia sido agraciada com o título de Heroína da União Soviética.
Acredita-se que graças ao prestígio e influência junto ao ditador soviético, Marina Raskova conseguisse, em 08 de outubro de 1941, que Josef Stalin emitisse uma ordem para a criação de 3 unidades de combate aéreo compostas, exclusivamente, por mulheres. Embora não houvesse nenhuma restrição formal para o ingresso de mulheres em funções de combate e muitas delas se juntaram as fileiras de combate (estima-se que 800 mil mulheres tenham lutado a II Guerra Mundial nas fileiras russas), não havia nenhuma unidade exclusivamente composta por mulheres.
Com a permissão de Stalin para a criação das unidades, Marina Raskova formou as três unidades aéreas, o 586° Regimento de Aviação de Caça (regimento da famosa Às Lydia Litvyak), 587º Regimento de Aviação de Bombardeiros e o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos, o regimento das bruxas, que posteriormente passou a se chamar 46ª Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda “Taman”
Foi aberta seleção para jovens voluntárias, e dado o comando operacional a major Evdokia Bershanskaia. O início foi tão complexo que sequer roupa no tamanho das jovens havia, sendo elas obrigadas a utilizarem os trajes masculinos de tamanho muito maior.
As aeronaves fornecidas eram as mais precárias disponíveis, sobrando para as Bruxas da Noite o avião Polikarpov Po-2 de madeira e lona, projetado em 1928 e utilizado originalmente como avião de treinamento e pulverização.
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Começo de operação das Bruxas da Noite
Em 23 de maio de 1942 as Bruxas da Noite concluíram seus treinamentos e foram enviadas para o combate como parte da 218º Divisão de Bombardeio Noturno.
As Bruxas da Noite sofreram forte preconceito por parte de aviadores do sexo masculino e por parte do alto comando soviético, como constato pelo General Konstantin Vershinin, comandante do 4º Exército Aéreo após uma conversa com Dmitry Popov, onde Popov teria ligado e dito:
“Eu recebi 112 garotinhas aqui, o que eu devo fazer com elas?”
Nesta oportunidade, o General Vershinin respondeu:
“Elas não são garotinhas, são aviadoras treinadas e irão combater o inimigo, apenas não as coloque diretamente no olho do furacão, deixe que elas se familiarizem e entrem em combate gradualmente”
Posteriormente o coronel Vershinin disse, ainda:
“Dmitry, elas vão lhe provar o que as mulheres soviéticas são capazes de fazer”
Em 12 de junho de 1942, as Bruxas da Noite tiveram o seu batismo de fogo sendo enviadas para bombardear posições Alemãs em Snizhne, na atual Ucrânia. Decolaram em 3 aeronaves Polikarpov Po-2, sendo a primeira delas da própria comandante Bershanskaia, seguida pela tenente Serafina Amosova e Lyubov Olkhovskaia.
Ao localizar a posição alemã, Bershanskaia mergulhou seu biplano em direção ao alvo e despejou a carga de bombas que havia. Logo em seguida as outras duas aeronaves da formação fizeram o mesmo, tendo a aeronave pilotada por Olkhovskaia sido atingida. Na primeira noite de combate as Bruxas da Noite tiveram seu primeiro sucesso, sucedido pela tragédia de perderem uma das aeronaves e suas companheiras.
As aviadoras recebem o apelido de Bruxas da Noite
Nos meses que sucederam, as Bruxas da Noite participaram de inúmeras missões de combate. Graças as dificuldades de operação do avião utilizado pela unidade, o Polikarpov Po-2, as Bruxas tiveram que adaptar suas táticas, sendo obrigadas a desligarem os motores das aeronaves e planarem em direção ao alvo como forma de minimizar as chances de serem detectadas pelas baterias antiaéreas alemãs.
Com os motores desligados e as aeronaves planando sob a cabeça dos alemães, se escutava apenas o barulho do vento nas asas e na lona da aeronave, o que segundo os alemães, pareciam bruxas voando em suas vassouras.
Com os ataques das Bruxas se intensificando cada vez mais, o medo dos alemães pelas Bruxas também ganhou corpo. O capitão Johannes Steinhoff assinalou:
“Nós não podíamos acreditar que os aviadores soviéticos que nos causavam tantos problemas eram, na verdade, mulheres. Aquelas mulheres simplesmente não temiam nada, elas vinham noite após noite em seus lentos biplanos e por diversas vezes não nos deixaram dormir nem um pouco.”
Josef Kociok, o caçador de Bruxas
Os alemães se mostraram bastante incomodados com as incursões de bombardeio noturno realizadas pelas Bruxas da Noite, tendo a Luftwaffe destacado um grupo de caças noturnos para interceptarem as bruxas.
Incrivelmente o péssimo desempenho do Polikarpov Po-2, se mostrou um trunfo para as Bruxas da Noite, pois a velocidade máxima do avião, apenas 120 km/h, era tão baixa que as aeronaves alemãs Messerschmitt Bf 109 e Focke-Wulf Fw 190, não conseguiam alcançar, já que a velocidade de estol, ou a velocidade mínima que suas aeronaves poderiam voar, era superior aos 120 km/h.
Contudo, um sargento da Luftwaffe Josef Kociok, conseguiu contornar as dificuldades e abater, em uma única noite, quatro aeronaves das Bruxas. Com o feito, Josef Kociok ganhou o apelido de caçador de bruxas e foi condecorado com a cruz do cavaleiro poucos dias após.
Os impressionantes números do Regimento das Bruxas
As Bruxas da Noite realizaram o incrível número de 24.000 missões e despejaram cerca de 23.000 toneladas de bombas sob as tropas alemãs.
Cada piloto voou mais de 800 missões e totalizaram 28.676 horas de voo em quase 3 anos de ação ininterrupta.
Ao todo, cerca de 32 bruxas foram mortas em combate e 28 aeronaves foram abatidas.
O reconhecimento do sucesso das Bruxas da Noite
As inúmeras ações bem sucedidas, a coragem e bravura das combatentes foi reconhecida por Moscou, que elevou seu regimento para o patamar de guarda, rebatizando o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos para 46ª Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda “Taman” (Taman” se refere ao envolvimento da unidade em duas famosas vitórias soviéticas na Península de Taman durante 1943).
Esta classificação colocou as Bruxas da Noite como elite do exército soviético.
Foi a unidade feminina mais condecorada da história mundial, tendo vinte e três aviadoras premiadas com o título de Heroína da União Soviética.