Maria I: A Rainha Sanguinária e sua Luta pela Fé
Maria I, também conhecida como Maria Tudor, foi uma das figuras mais controversas e intrigantes da história da Inglaterra. Nascida em 18 de fevereiro de 1516, ela era a filha mais velha do rei Henrique VIII e de sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Seu reinado, que durou de 1553 a 1558, foi marcado por tumultos religiosos e políticos, e seu legado continua a ser debatido até hoje.
Infância e Educação
Maria Tudor nasceu no Palácio de Greenwich, em Londres, e desde cedo foi preparada para um papel significativo na política europeia. Como filha do rei Henrique VIII, ela foi educada em várias disciplinas, incluindo línguas, música, e teologia, recebendo uma educação que era excepcional para as mulheres da época. Sua mãe, Catarina de Aragão, era uma fervorosa católica e influenciou grandemente a formação religiosa de Maria.
A infância de Maria, no entanto, não foi isenta de dificuldades. O desejo de Henrique VIII de garantir um herdeiro masculino levou a seu divórcio de Catarina e ao casamento subsequente com Ana Bolena. Isso teve um impacto profundo em Maria, que foi afastada da linha sucessória. As mudanças políticas e religiosas que acompanharam o rompimento de Henrique com a Igreja Católica Romana moldaram profundamente a visão de mundo de Maria e a sua determinação em restaurar o catolicismo na Inglaterra.
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A luta de Maria I pelo trono da Inglaterra
A disputa de Maria Tudor pelo trono da Inglaterra foi uma das mais dramáticas e significativas na história da monarquia britânica. Após a morte de seu pai, Henrique VIII, em 1547, seu meio-irmão, Eduardo VI, um protestante fervoroso, subiu ao trono. Durante o breve reinado de Eduardo, Maria, uma católica devota, viveu sob constante pressão para abandonar sua fé, mas permaneceu firme em suas convicções.
Quando Eduardo VI adoeceu fatalmente em 1553, ele, influenciado por seus conselheiros protestantes, especialmente John Dudley, Duque de Northumberland, tentou alterar a linha de sucessão para evitar que Maria, uma católica, assumisse o trono. Eduardo nomeou sua prima protestante, Lady Jane Grey, como sua sucessora. Lady Jane Grey foi proclamada rainha em 10 de julho de 1553, mas sua ascensão ao trono foi recebida com resistência.
Maria, determinada a reivindicar seu direito ao trono, rapidamente reuniu apoio popular e militar. Seu apelo à legitimidade como filha de Henrique VIII e sua promessa de restaurar a verdadeira fé católica atraíram seguidores de várias partes da Inglaterra. Em menos de duas semanas, Maria conseguiu formar um exército considerável e marchou em direção a Londres. O apoio popular a Lady Jane Grey desmoronou rapidamente, e ela foi deposta após apenas nove dias como rainha.
Em 19 de julho de 1553, Maria foi proclamada rainha em Londres. A vitória de Maria não só consolidou sua posição como legítima herdeira de Henrique VIII, mas também marcou o início de um reinado que seria definido por suas tentativas de restaurar o catolicismo.
O Governo de Maria I e o apelido de sanguinária
Maria assumiu o trono com a determinação de reverter as reformas protestantes iniciadas por seu pai e intensificadas durante o reinado de Eduardo VI. Uma de suas primeiras ações como rainha foi restaurar o catolicismo como religião oficial da Inglaterra. Ela ordenou a anulação das leis protestantes e a restauração da autoridade papal, ações que culminaram em uma série de perseguições religiosas.
Estas perseguições são talvez a característica mais infame de seu reinado, ganhando-lhe o apelido de “Bloody Mary”. Cerca de 280 protestantes foram executados por heresia, principalmente através de queima na fogueira. Esses eventos traumáticos não só consolidaram sua reputação negativa, mas também instigaram um clima de medo e repressão em toda a nação. A política de intolerância religiosa de Maria provocou resistência e hostilidade, exacerbando as divisões religiosas dentro do país.
No campo político, o casamento de Maria com Filipe II da Espanha em 1554 teve implicações significativas. Esse casamento foi altamente impopular entre os ingleses, que temiam que a Inglaterra se tornasse uma mera extensão do império espanhol. Embora Filipe II tenha sido coroado rei consorte, ele teve pouca influência direta sobre os assuntos ingleses. A aliança com a Espanha arrastou a Inglaterra para a guerra contra a França, resultando na perda de Calais em 1558, o último reduto inglês no continente europeu. A perda de Calais foi um golpe severo para o prestígio de Maria e da Inglaterra.
Outro aspecto significativo do reinado de Maria foi sua tentativa de consolidar a monarquia Tudor. Ela esforçou-se para estabilizar a economia e melhorar a administração pública, embora esses esforços fossem frequentemente ofuscados pelas questões religiosas. O impacto das suas políticas econômicas e administrativas teve efeitos mistos, com alguns sucessos na reforma do sistema fiscal e na gestão da marinha.
Morte e legado
Maria I da Inglaterra morreu em 17 de novembro de 1558, provavelmente de câncer no útero, aos 42 anos. Sua morte marcou o fim de um reinado turbulento e a ascensão de sua meia-irmã, Isabel I, ao trono. O reinado de Maria foi caracterizado por sua tentativa fervorosa de restaurar o catolicismo na Inglaterra, após as reformas protestantes de seu pai, Henrique VIII, e de seu meio-irmão, Eduardo VI.
O legado de Maria é profundamente controverso. Conhecida como “Bloody Mary” devido à sua perseguição implacável aos protestantes, com cerca de 280 execuções, ela é frequentemente lembrada como uma figura cruel e intolerante. Essas perseguições criaram um clima de medo e repressão, que deixou marcas profundas na sociedade inglesa.
No entanto, Maria também buscou consolidar a monarquia Tudor e implementou reformas administrativas e fiscais. Seu casamento com Filipe II da Espanha, embora impopular, tinha como objetivo fortalecer a aliança anglo-espanhola.
Após sua morte, Isabel I desfez muitas das reformas de Maria, estabelecendo a Igreja da Inglaterra em bases protestantes. O legado de Maria Tudor é um misto de devoção religiosa e políticas severas, que continuam a ser objeto de debate entre historiadores.