Hatshepsut: Rainha-Faraó do Egito
Hatshepsut, a rainha-faraó destemida, foi uma das figuras mais notáveis do antigo Egito, destacando-se como a primeira mulher a assumir o título de faraó e governar como uma legítima chefe de estado.
Seu reinado, que floresceu entre 1473 e 1458 a.C., é uma narrativa fascinante de ousadia, ambição e liderança, encerrada entre os magníficos monumentos das margens do Nilo.
Hatshepsut não apenas desafiou as expectativas sociais ao ascender ao trono, mas ela também reinventou a própria essência do poder no Egito Antigo. Este artigo busca desvendar os intricados véus que envolvem sua vida, destacando sua ascensão notável, os desafios enfrentados e o impacto duradouro de seu reinado.
Quem foi Hatshepsut e Como foi sua Ascensão ao Poder?
Nascida por volta de 1507 a.C., ela pertencia à realeza, sendo filha de Tutemés I e da rainha Ahmose. O pai de Hatshepsut tinha fortes preocupações com a continuidade de sua linhagem. Tutemés I não teve nenhum herdeiro com sua primeira esposa. Contudo, com uma esposa secundária foi concebido Tutemes II, futuro faraó do Egito.
Para garantir a legitimidade da sucessão, Tutemés I casou os meio-irmão Tutemés II e Hatshepsut.
Após o falecimento de Tutemés I, Tutemés II tornou-se faraó, e Hatshepsut, sua esposa, assumiu o título de rainha do Egito. Além disso, ela ocupou a prestigiosa posição de “esposa de deus”, vinculada à veneração de Amon. Nesse papel, desempenhava um papel crucial como auxiliar do alto sacerdote no templo de Amon, localizado em Karnak, conferindo-lhe significativos poderes políticos.
Do casamento de Hatshepsut e Tutemés II, nasceu Neferuré, uma filha. Como Hatshepsut não teve descendência direta com seu esposo, Ísis, a esposa secundária do faraó, desempenhou o papel de gerar um herdeiro. Dessa união, nasceu Tutemés III, por volta de 1481 a.C. Pouco depois, em 1479 a.C., Tutemés II faleceu, deixando o trono para o herdeiro Tutemés III.
Após a morte prematura de Tutemés II, a linha sucessória tradicional apontava para Tutemés III, filho do faraó falecido com Ísis, como herdeiro legítimo. No entanto, Hatshepsut, astuta e ambiciosa, viu uma oportunidade de exercer influência sobre o trono como regente em nome do jovem Tutemés III. O que começou como um período de regência temporária rapidamente se transformou em uma jogada política ousada: Hatshepsut proclamou-se faraó, assumindo o trono de maneira única e desafiadora após sete anos de regência.
O Reinado de Hatshepsut
Embora não se saiba com exatidão como Hatshepsut saiu de regente para faraó, ela ascendeu ao trono por volta de 1473 a.C., marcando um período notável que abrangeu aproximadamente 22 anos.
Hatshepsut ocupou a posição de quinto faraó na 18ª dinastia, e seu governo ficou notadamente caracterizado pelo impulso no desenvolvimento do comércio. Estrategicamente, Hatshepsut empregou a iconografia egípcia como uma ferramenta para consolidar sua posição no poder. As esculturas e desenhos que a representavam foram concebidos com feições masculinas, propositadamente ocultando características femininas, como os seios.
Durante seu reinado, Hatshepsut demonstrou uma perspicácia administrativa notável, focando em projetos monumentais que perpetuaram sua memória. O Templo de Deir el-Bahari, na margem ocidental do Nilo, é um exemplo icônico da arquitetura do seu governo. Projetado pelo arquiteto Senemut, o templo era dedicado à tríade divina formada por Amon, Anúbis e Hathor. A grandiosidade do complexo reflete não apenas a devoção religiosa, mas também a afirmação do poder e prestígio de Hatshepsut.
Além de empreendimentos arquitetônicos, Hatshepsut estimulou a exploração comercial e a realização de expedições ao exterior. Uma das expedições mais notáveis foi aquela liderada por seu enviado, Henu, ao país de Punt, atualmente associado à região do Mar Vermelho. O relevo de Punt em Deir el-Bahari representa vividamente os produtos exóticos e riquezas trazidos dessa terra distante, ilustrando o interesse de Hatshepsut em estabelecer relações comerciais além das fronteiras do Egito.
Morte e Tentativa de Apagar a História da Primeira Faraó do Egito
A morte de Hatshepsut, uma das figuras mais marcantes do Antigo Egito, permanece envolta em mistério. Após um reinado que deixou um legado significativo em termos de arquitetura, comércio e administração, sua partida levantou questões intrigantes. Embora a causa exata de sua morte não seja clara, os estudos mais recentes apontam que a morte de Hatshepsut tenha ocorrido por conta de um cancer nos ossos.
No entanto, o que se seguiu à sua morte é igualmente fascinante. Seu enteado, Tutemés III, que ascendeu ao trono, empreendeu uma campanha de apagamento sistemático da memória de Hatshepsut. Esta tentativa de eliminar qualquer vestígio da presença dela na história egípcia incluiu a destruição ou reutilização de monumentos, estátuas e inscrições que a representavam. Tutemés III parece ter desejado restaurar a ideia tradicional do faraó masculino, eliminando os registros que desafiavam as normas de gênero estabelecidas pela rainha.
As razões para essa tentativa de apagar Hatshepsut da história egípcia são complexas. Alguns estudiosos sugerem que Tutemés III pode ter percebido a necessidade de afirmar a supremacia do faraó masculino após o reinado de Hatshepsut, que desafiou as convenções ao governar como uma mulher. Além disso, a natureza peculiar da relação de ambos, sendo ela sua madrasta e co-regente por um período, pode ter influenciado essa ação de apagamento.
Apesar dos esforços de Tutemés III, o impacto de Hatshepsut na história egípcia persiste. Descobertas arqueológicas e inscrições remanescentes revelam a grandiosidade de seu reinado e a ousadia de suas escolhas. A tentativa de apagar sua memória destaca a importância que Hatshepsut teve não apenas em sua época, mas também na maneira como desafiou as normas de gênero e contribuiu para o desenvolvimento cultural e político do Egito Antigo.