Revolução Iraniana: Do Xá ao Aiatolá – Uma Transformação Histórica
A Revolução Iraniana, também conhecida como Revolução Islâmica, foi um evento de grande magnitude que ocorreu em 1979 no Irã, e teve um impacto significativo não só naquele país, mas também na política internacional e nas relações internacionais. Esse movimento transformador levou à derrubada do regime monárquico do Xá Reza Pahlavi e à instauração de uma teocracia islâmica liderada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini.
Contexto histórico antecedente a Revolução Iraniana
Para compreender adequadamente a Revolução Iraniana, é essencial considerar o contexto histórico do Irã antes de 1979. O país vivenciou um século de mudanças significativas, incluindo a queda da dinastia Qajar, em 1925, e a ascensão de Reza Pahlavi como Xá (Imperador). Durante seu reinado, o Irã passou por uma série de modernizações, inspirado por ideias ocidentais, como a laicização do Estado, industrialização e educação secular. No entanto, essas reformas foram desiguais, beneficiando uma elite urbana e ocidentalizada, enquanto a maioria da população rural ainda vivia na pobreza.
Na década de 1950, o Primeiro Ministro Mohammad Mossadegh nacionalizou a indústria petrolífera, desafiando os interesses ocidentais, o que levou ao golpe de Estado de 1953, apoiado pela CIA e MI6, para restaurar o poder do Xá e garantir o controle ocidental sobre o petróleo iraniano.
A crescente insatisfação com o regime autoritário de Reza Pahlavi, marcado por corrupção, repressão política promovida pela Savak – polícia secreta iraniana diretamente ligada ao Xá, e desigualdade social, culminou nos protestos massivos da Revolução Branca em 1978. Esses eventos turbulentos prepararam o terreno para a Revolução Iraniana, que resultaria na derrubada do Xá e na ascensão de um governo teocrático islâmico sob a liderança do Aiatolá Khomeini.
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O Massacre de 8 de Setembro: Um Trágico Capítulo na História Iraniana
O Massacre de 8 de Setembro, também conhecido como Massacre de Teerã de 1978, foi um evento sangrento que ocorreu durante a Revolução Iraniana. Em 8 de setembro de 1978, milhares de manifestantes pró-democracia se reuniram na Praça Jaleh, em Teerã, para protestar contra o regime autoritário do Xá Mohammad Reza Pahlavi.
O governo respondeu com violência, ordenando a força militar a reprimir brutalmente os manifestantes desarmados. Tanques e tropas foram usados para dispersar a multidão, resultando em centenas de mortes e ferimentos graves.
O massacre de 8 de setembro foi um ponto de inflexão na revolução, intensificando a determinação da população em derrubar o regime monárquico. As imagens chocantes dos manifestantes sendo mortos e feridos provocaram uma onda de indignação pública e solidariedade em todo o país.
Esse trágico episódio galvanizou a oposição ao Xá e fortaleceu o movimento liderado pelo Aiatolá Khomeini, que logo depois se tornaria o líder supremo do Irã após a queda do regime em 1979.
Ascensão do Aiatolá Khomeini e a Crise de 1978-1979
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a oposição ao regime do Xá Pahlavi cresceu, com diversos grupos políticos, intelectuais e religiosos descontentes com sua liderança autoritária, corrupção e políticas pró-ocidentais. Entre essas vozes críticas estava o Aiatolá Ruhollah Khomeini, um líder religioso xiita exilado em 1964, que se tornou uma figura central na oposição ao Xá.
A Revolução Islâmica foi desencadeada em 1978, quando protestos populares massivos, conhecidos como a Revolução Branca, eclodiram em todo o país. Os manifestantes exigiam reformas políticas, maior liberdade e o fim da repressão. Em resposta, o Xá impôs medidas repressivas, mas a brutalidade do governo apenas intensificou a resistência.
O movimento de protesto ganhou apoio de diferentes setores da sociedade, incluindo clérigos, estudantes, trabalhadores e intelectuais. A liderança do Aiatolá Khomeini, transmitida através de fitas cassete e transmissões de rádio clandestinas, desempenhou um papel fundamental na mobilização popular.
A crise política e social atingiu seu auge em janeiro de 1979, quando o Xá Pahlavi deixou o país em meio a crescentes manifestações e greves em massa. Khomeini retornou ao Irã após anos de exílio, sendo recebido por uma multidão imensa, e rapidamente emergiu como a figura de proa da revolta popular. A República Islâmica foi proclamada em abril de 1979, estabelecendo o aiatolá como o líder supremo do Irã.
A Revolução Iraniana marcou a transição do país de uma monarquia secular para uma república teocrática islâmica, com base em princípios religiosos e governança de acordo com a lei islâmica (Sharia). Isso teve um impacto profundo nas instituições políticas, econômicas e sociais do país.
Consequências da Revolução Iraniana
A Revolução Iraniana teve implicações significativas em diversas áreas, tanto interna quanto externamente:
Consolidação do Poder Religioso: Com a instauração de uma república islâmica, o poder político foi centralizado nas mãos do clero, liderado pelo Aiatolá Khomeini. O Irã se tornou um Estado teocrático, e a interpretação da lei islâmica passou a reger as políticas e a sociedade iraniana.
Mudanças Sociais e Culturais: A revolução provocou mudanças sociais profundas, com a promoção de valores e tradições islâmicas em diferentes aspectos da vida pública e privada. Medidas como a obrigatoriedade do hijab e a segregação de gênero em espaços públicos foram implementadas, o que gerou resistência entre certos segmentos da sociedade.
Hostilidade com o Ocidente: A Revolução Iraniana gerou tensões com o Ocidente, principalmente com os EUA. A invasão da embaixada dos EUA em Teerã por estudantes iranianos levou a uma crise diplomática prolongada, conhecida como a Crise dos Reféns no Irã, que durou 444 dias.
Guerra Irã-Iraque: Poucos meses após a Revolução, o Irã enfrentou um conflito devastador com o Iraque, liderado por Saddam Hussein. A guerra durou quase uma década e teve um impacto humanitário significativo, com milhares de vítimas e grandes prejuízos econômicos.
Repressão Política: O novo governo reprimiu opositores políticos, levando à formação de uma rede de prisões políticas e ao controle rígido sobre a mídia e a sociedade civil.
Êxodo de Pessoas: Muitos iranianos que discordavam do novo regime deixaram o país, resultando em uma diáspora significativa.
Consolidação da Influência Regional: A Revolução Iraniana fortaleceu a posição do Irã como um ator importante no Oriente Médio, procurando espalhar sua visão política e religiosa e apoiando movimentos e grupos afins em outros países da região.