Ira de Deus: A Operação do Mossad para Vingar o Atentado de Munique
A realização da Olimpíada de Munique em 1972 foi um marco significativo na história dos Jogos Olímpicos. Infelizmente, essa edição ficou marcada por um dos eventos mais trágicos da competição esportiva: o sequestro e assassinato de membros da delegação israelense por terroristas palestinos. A caçada aos terroristas responsáveis por esse ato hediondo se tornou uma operação intensa e complexa denominada Ira de Deus.
O Atentado em Munique e o desfecho trágico
Em 5 de setembro de 1972, o mundo assistiu horrorizado enquanto oito membros da delegação israelense e um policial alemão foram sequestrados e mantidos como reféns por um grupo de terroristas palestinos ligados à organização Setembro Negro. Os terroristas invadiram a Vila Olímpica em Munique, onde os atletas israelenses estavam hospedados, em uma operação planejada com precisão assustadora.
O objetivo dos sequestradores era chamar a atenção do mundo para a questão palestina e exigir a libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel. No entanto, o que se seguiu foi uma tragédia que abalou o mundo e mudou para sempre a segurança nos Jogos Olímpicos.
As autoridades alemãs enfrentaram um desafio sem precedentes ao tentar resgatar os reféns. Durante as negociações, os terroristas exigiram um avião para escapar da Alemanha com os reféns, mas as autoridades alemãs recusaram-se a ceder à chantagem. Com a esperança de resolver a situação pacificamente, um plano de resgate foi elaborado, mas sua execução foi repleta de erros críticos.
No dia seguinte, em 6 de setembro, a tragédia atingiu seu ponto mais devastador. Em um aeroporto militar perto de Munique, onde o resgate ocorreria, os terroristas perceberam que suas demandas não seriam atendidas e começaram uma série de atos de violência. Um tiroteio sangrento resultou na morte de todos os reféns e de cinco dos oito terroristas. Três terroristas foram presos, mas o restante escapou.
A Decisão de Iniciar a Caçada aos Terroristas: A Resposta Implacável após o Atentado em Munique
Após o terrível atentado, o governo de Israel sentiu a necessidade de tomar medidas decisivas para responder ao ataque e combater o terrorismo que representava uma ameaça direta à segurança do país e de seus cidadãos. A tragédia em Munique foi percebida em Israel como um ataque direto à nação e uma ameaça à segurança de seus cidadãos. Em resposta, o Mossad, a agência de inteligência israelense, assumiu a liderança na investigação e na busca pelos terroristas do Setembro Negro, grupo responsável pelo atentado.
Golda Meir, como primeira-ministra e líder do governo israelense, apoiou a iniciativa do Mossad, a agência de inteligência de Israel, de caçar os membros do grupo terrorista Setembro Negro responsáveis pelo massacre em Munique.
Com a autorização concedida por Golda Meir a operação de caçada aos terroristas conhecida como “Operação Ira de Deus” (ou “Operação Cólera de Deus”), poderia iniciar.
Operação Ira de Deus
A operação “Ira de Deus” teve como objetivo rastrear e eliminar os terroristas envolvidos no atentado em Munique e outros ataques contra Israel. Essa operação contou com ação coordenada de agentes de inteligência israelenses em diferentes países para garantir que os perpetradores do atentado fossem responsabilizados por seus atos.
A Mossad montou uma extensa rede de inteligência, espalhando agentes por diversos países para rastrear os terroristas. As informações coletadas eram minuciosamente analisadas para identificar suas localizações e rotas de fuga. Operações meticulosamente planejadas foram realizadas para eliminar os terroristas, evitando a repetição de tragédias semelhantes.
Ao longo dos anos que se seguiram ao atentado, a Mossad identificou e rastreou membros do Setembro Negro em diferentes países. Várias operações foram realizadas para eliminar esses terroristas e outros que representavam uma ameaça para Israel. Alguns dos principais alvos da Mossad incluíam:
Ali Hassan Salameh: Considerado o líder do Setembro Negro, ele foi um dos principais responsáveis pelo planejamento do ataque em Munique. Em 1979, uma operação da Mossad comandada por um grupo de agentes conhecido como “Os Filhos da Etiópia” eliminou Salameh em Beirute, no Líbano, com um carro-bomba.
Mohammad Boudia: Participante direto do ataque em Munique, foi assassinado por agentes da Mossad em Paris, França, em 1973.
Hussein Al Bashir: Também envolvido no atentado em Munique, foi morto em 1973, em Nicósia, no Chipre, por uma equipe de agentes da Mossad.
Esses são apenas alguns exemplos dos alvos da Operação Ira de Deus. A Mossad também tentou eliminar outros membros do Setembro Negro, e alguns desses esforços tiveram sucesso, enquanto outros não foram bem-sucedidos.
A “Operação Ira de Deus” foi uma resposta enérgica e incansável ao terrorismo, refletindo o compromisso de Israel em proteger seus cidadãos e enfrentar as ameaças à sua segurança.
Crítica Internacional a Operação Ira de Deus
A Operação Ira de Deus, realizada pela Mossad em resposta ao atentado terrorista em Munique em 1972, foi altamente controversa e recebeu várias críticas, tanto dentro de Israel como internacionalmente.
Violação da soberania de outros países: As operações da Mossad foram conduzidas em diferentes países ao redor do mundo, muitas vezes sem o consentimento ou conhecimento dessas nações. Isso levantou preocupações sobre a violação da soberania territorial de outros países e suscitou debates sobre o direito de Israel de realizar operações secretas em território estrangeiro.
Execuções extrajudiciais: As ações da Mossad resultaram em execuções extrajudiciais de membros do Setembro Negro e outros suspeitos de terrorismo. Muitas pessoas questionaram a legalidade e a ética dessas execuções, argumentando que todos têm o direito a um julgamento justo e a serem considerados inocentes até que se prove o contrário.
Retaliação desproporcional: Alguns críticos argumentaram que a Operação Ira de Deus representou uma resposta desproporcional ao atentado em Munique. Embora o ataque tenha sido uma tragédia terrível, as operações de vingança da Mossad resultaram em várias mortes e podem ter exacerbado as tensões e o conflito na região.
Efeito de escalação: Algumas vozes críticas alegaram que a Operação Ira de Deus poderia ter contribuído para uma escalada do terrorismo e da violência, em vez de resolver o problema. A morte de líderes terroristas muitas vezes leva a substituições por outros membros, aumentando o ciclo de violência.
Impacto na diplomacia e nas relações internacionais: A realização de operações secretas em outros países sem cooperação ou conhecimento prévio pode prejudicar as relações diplomáticas de Israel com outras nações, gerando tensões e desconfiança.
Operação Ira de Deus retratada no cinema
Uma das produções mais conhecidas que aborda esse tema é o filme “Munique” (2005), dirigido por Steven Spielberg. O filme é uma dramatização dos eventos que se seguiram ao atentado terrorista durante a Olimpíada de Munique em 1972 e foca na equipe de agentes secretos israelenses encarregados de caçar e eliminar os membros do Setembro Negro responsáveis pelo ataque.
“Munique” acompanha a jornada emocional e moral dos agentes da Mossad, retratando a tensão e os dilemas éticos enfrentados durante a operação. O filme também aborda as consequências e o impacto psicológico das ações tomadas pelos agentes em nome da justiça.
É importante observar que, embora “Munique” seja uma obra de ficção baseada em eventos reais, alguns detalhes e interpretações foram ficcionalizados para fins dramáticos. O filme recebeu críticas positivas por sua abordagem complexa e matizada sobre o tema do terrorismo e das operações secretas.
Além do filme “Munique” (2005), há outras obras que abordam a Operação Ira de Deus:
“One Day in September” (1999) – Dirigido por Kevin Macdonald, este documentário ganhador do Oscar explora os eventos que culminaram no atentado em Munique e as falhas na segurança durante os Jogos Olímpicos. O filme apresenta entrevistas com sobreviventes, testemunhas e autoridades envolvidas nos acontecimentos.
“Sword of Gideon” (1986) – Esse filme para a televisão, dirigido por Michael Anderson, é baseado no livro “Vengeance” de George Jonas, que detalha a Operação Ira de Deus. O filme narra os esforços da Mossad para rastrear e eliminar os terroristas do Setembro Negro.
“Munich: Mossad’s Revenge” (2018) – Este documentário, produzido pela BBC, investiga as operações da Mossad para vingar o atentado de Munique. O filme analisa a justiça e as questões éticas em torno das ações do serviço de inteligência israelense.
“The Munich Operation” (1998) – Outro documentário que examina a caçada aos terroristas responsáveis pelo atentado em Munique. O filme inclui entrevistas com pessoas diretamente envolvidas na operação, revelando informações sobre como a Mossad planejou e executou as ações.
Olá, Fernando! Acabei de assistir à (ótima) minissérie da Netflix, “O Mundo da Espionagem”, na qual, em dois episódios, é abordado esse tema. Daí, ao pesquisar sobre a Operação Ira de Deus, eu me deparei com este site (no qual me cadastrei) e com o seu ótimo artigo. Porém, observei que
há um pequeno erro de dado, cuja correção eu gostaria de sugerir. O Ali Hassan Salameh, então líder do Setembro Negro, não foi morto em 1973. Na verdade, o Mossad o matou em janeiro de 1979. No mais, agradeço e parabenizo você por tão nobre e importante iniciativa de criar e manter um site de história com conteúdo de qualidade. Abraço!
Olá, Osório!
Muito obrigado pelo comentário. Quanto ao erro em relação ao ano em que Salameh foi executado, você está correto. A correção já foi realizada. Abraços.