Wernher von Braun: Um Nazista na NASA
Wernher Magnus Maximilian von Braun foi um engenheiro aeroespacial alemão-americano que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento dos foguetes modernos e na exploração espacial. Sua genialidade e visão revolucionaram o campo da engenharia aeroespacial, levando à conquista do espaço e ao estabelecimento de um legado duradouro na história da humanidade.
Anos iniciais
Wernher von Braun nasceu em 23 de março de 1912, em Wirsitz, na Alemanha. Desde cedo, von Braun mostrou um interesse incomum pela astronomia e pelos foguetes. Ele foi inspirado pelas obras de pioneiros da ficção científica, como Jules Verne, e construiu seu primeiro foguete experimental aos 13 anos.
Iniciou seus estudos em engenharia mecânica na Universidade Técnica de Berlim, onde recebeu uma educação sólida e aprendeu os princípios fundamentais da engenharia. Durante seu tempo na universidade, ele também se juntou a um grupo de entusiastas de foguetes chamado “Sociedade para o Estudo de Foguetes” (Verein für Raumschiffahrt – VfR), onde colaborou com outros jovens entusiastas para explorar os conceitos teóricos e práticos dos foguetes.
Enquanto ainda estava na universidade, von Braun começou a trabalhar em projetos de foguetes, focando em melhorar seu desempenho e alcance. Ele conduziu experimentos e pesquisas independentes e contribuiu para o desenvolvimento dos primeiros foguetes de combustível líquido. Essas contribuições iniciais permitiram que ele ganhasse reconhecimento dentro da comunidade científica.
Em 1932, von Braun e seus colegas do VfR conseguiram lançar com sucesso o foguete “A”, um dos primeiros foguetes a atingir altitudes significativas. Esse feito atraiu a atenção do Exército Alemão, que estava interessado no potencial militar dos foguetes. Von Braun e sua equipe foram contratados pelo Exército para continuar seu trabalho no campo dos foguetes.
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Programa Espacial Alemão
No início dos anos 1930, eles se dedicaram ao desenvolvimento de foguetes como arma de longo alcance, abrindo caminho para o programa espacial alemão.
Com o apoio do Exército Alemão, von Braun e sua equipe se concentraram no desenvolvimento do foguete V-2, que se tornou o trabalho mais notável de von Braun no programa espacial alemão. O V-2, também conhecido como Aggregat 4 (A-4), foi o primeiro míssil balístico de longo alcance do mundo.
Von Braun liderou uma equipe de engenheiros talentosos que aperfeiçoaram o projeto do V-2, que usava combustível líquido e tinha um alcance de mais de 300 quilômetros. Essa conquista tecnológica representou um avanço significativo na engenharia de foguetes e teve implicações militares consideráveis.
O V-2 utilizava um motor de foguete de combustível líquido, composto por uma combinação de álcool etílico e água oxigenada como propelentes. Essa escolha de combustível permitia um desempenho superior em comparação com os motores de foguetes de combustível sólido utilizados anteriormente.
Após anos de pesquisa, testes e refinamentos, o primeiro lançamento bem-sucedido de um V-2 ocorreu em outubro de 1942. Durante o curso da Segunda Guerra Mundial, os alemães utilizaram os foguetes V-2 como uma arma estratégica para atacar alvos na Europa Ocidental, principalmente na Inglaterra. Embora seu impacto militar tenha sido limitado em relação ao curso geral da guerra, o V-2 foi uma inovação tecnológica notável que estabeleceu as bases para o desenvolvimento dos foguetes modernos.
O programa espacial alemão liderado por von Braun foi uma parte importante da estratégia de guerra do Terceiro Reich, mas também enfrentou desafios consideráveis durante o conflito. A produção em massa dos foguetes V-2 exigiu uma infraestrutura complexa, incluindo fábricas e mão de obra especializada. A produção dos V-2 envolveu o uso de trabalho escravo e prisioneiros de campos de concentração, uma prática que resultou em uma perda de vidas humanas considerável e levanta sérias questões éticas sobre o programa espacial alemão nesse período.
Carreira de von Braun nos Estados Unidos
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos lançaram a Operação Paperclip, um programa para recrutar cientistas alemães de destaque, incluindo von Braun. Em 1945, von Braun e grande parte de sua equipe foram levados para os EUA. Essa transferência foi crucial para aproveitar o conhecimento e a experiência alemães no campo dos foguetes e impulsionar o programa espacial americano.
Após sua chegada aos EUA, von Braun foi inicialmente designado para Fort Bliss, no Texas, onde continuou seu trabalho no desenvolvimento de foguetes. Lá, ele liderou a equipe responsável pelo desenvolvimento e aprimoramento do foguete Redstone, um míssil balístico de médio alcance. O Redstone desempenhou um papel importante na história dos foguetes, pois foi o precursor do famoso foguete Saturn V, que levaria os astronautas americanos à Lua.
Em 1960, von Braun assumiu a posição de diretor do Centro de Voos Espaciais Marshall (Marshall Space Flight Center) da NASA, localizado em Huntsville, Alabama. No Marshall, ele foi responsável pelo desenvolvimento dos foguetes Saturn, que foram essenciais para o programa Apollo e o objetivo de pousar humanos na Lua.
Von Braun desempenhou um papel fundamental no Programa Apollo, que culminou com a histórica missão Apollo 11 em 1969, quando a humanidade pisou na Lua pela primeira vez. O foguete Saturn V, projetado sob a liderança de von Braun, foi o veículo que impulsionou as missões Apollo em direção à Lua. A contribuição de von Braun para o programa Apollo foi essencial, tornando-o uma figura central na história da exploração espacial.
Após o sucesso do programa Apollo, von Braun continuou a influenciar a exploração espacial nos Estados Unidos. Ele desempenhou um papel importante no desenvolvimento do Ônibus Espacial, o sistema de lançamento reutilizável que permitiu um acesso mais frequente e econômico ao espaço. Além disso, von Braun defendeu a ideia de uma estação espacial permanente em órbita, um conceito que posteriormente se concretizou na construção da Estação Espacial Internacional (ISS).
Crítica aos Estados Unidos e a Von Braun
A decisão dos Estados Unidos de recrutar von Braun e outros cientistas alemães através da Operação Paperclip também foi alvo de críticas. Alguns questionam a moralidade de absorver cientistas envolvidos com o regime nazista em troca de seus conhecimentos e habilidades técnicas. Essa controvérsia ressalta as complexidades éticas e políticas associadas à busca de vantagens científicas e tecnológicas.
Já a Von Braun a crítica está relacionada à sua associação com o regime nazista. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi um membro ativo do Partido Nazista e trabalhou em estreita colaboração com as forças armadas alemãs para desenvolver foguetes de longo alcance, como o V-2. Sua posição de destaque no programa espacial alemão levanta questões sobre sua responsabilidade moral diante dos abusos cometidos pelo regime nazista.
Outra crítica significativa a von Braun diz respeito ao uso de trabalho forçado na produção dos foguetes V-2. Durante a guerra, milhares de prisioneiros de campos de concentração foram forçados a trabalhar nas fábricas onde os foguetes eram produzidos. As condições de trabalho eram extremamente precárias, levando a uma perda significativa de vidas humanas. Embora von Braun tenha alegado não ter conhecimento total das atrocidades cometidas, questiona-se até que ponto ele poderia estar alheio às condições desumanas nas quais os foguetes foram produzidos.
Morte e legado
Após uma carreira notável no campo da engenharia aeroespacial, Wernher von Braun faleceu em 16 de junho de 1977, aos 65 anos, em Alexandria, Virgínia, Estados Unidos. Seu legado é marcado por avanços significativos no desenvolvimento de foguetes e seu papel fundamental na conquista da Lua. No entanto, seu envolvimento com o regime nazista e as controvérsias éticas em relação ao uso de trabalho forçado em seus projetos permanecem como um aspecto polêmico de sua carreira e de seu legado.