Bombardeio de Dresden – o crime dos bons
Muito ouvimos falar dos crimes de guerra cometidos pelos alemães e seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, porém, raramente escutamos sobre crimes de guerra cometidos pelos americanos e pelos britânicos. Há uma justificativa para isso, a narrativa predominante pós-conflito é sempre do vencedor.
A Operação Clarion, nome dado a missão de Bombardeio de Dresden, sem dúvida alguma, foi um dos crimes de guerra cometidos pelos aliados e, quase esquecido, sufocado pela narrativa do vencedor que não tinha nenhum interesse em colocar holofotes no triste episódio que riscou a cidade de Dresden do mapa.
Dresden pouco antes do bombardeio
A cidade de Dresden era conhecida como Florença do Elba, dado a sua impressionante arquitetura barroca e por ser uma cidade culturalmente muito ativa.
Nos arredores da cidade havia cerca de 110 indústrias e 50 mil trabalhadores, o que foi utilizado como justificativa para o bombardeio a Dresden
Em fevereiro de 1945, Dresden estava localizada a apenas 250 km da frente oriental, e os esforços de defesa da Alemanha estavam fracassando diante do imparável avanço militar do exército vermelho.
Dresden estava abrigando, principalmente, mulheres, idosos e combatentes feridos. A cidade estava sendo chamada de “Cidade Hospital” (Die Lazarettstadt) e também por “Cidade dos Refugiados” (Fluechtlingsstadt).
Já não havia mais grandes defesas na cidade e até as baterias antiaéreas já haviam sido transferidas para a defesa do Ruhr . Esta afirmativa pode ser tida como verdadeira ao analisarmos os números de perda de aeronaves da RAF – Força Aérea Real e da USAAF – Força Aérea Americana, que em conjunto perderam apenas sete aeronaves.
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O Bombardeio a Dresden – Operação Clarion
A missão de bombardeio a Dresden foi denominada – Operação Clarion e iniciou em 13 de fevereiro de 1945, ironicamente, de terça para quarta-feira de cinzas.
A primeira horda, com cerca de 800 aviões da RAF, despejaram mil e oitocentas toneladas de bombas em cerca de 25 minutos, certamente, os piores 25 minutos da vida das pessoas em Dresden até aquele momento, mas era só o começoApós a primeira onda de bombardeio a Dresden, que destruiu boa parte da estrutura dos prédios, veio um novo ataque, despejando, desta vez, bombas incendiárias de napalm e o fósforo, reduzindo Dresden a uma fogueira gigante.
A cidade se transformou em um verdadeiro inferno, as temperaturas na cidade eram absurdamente altas, e o fogo sugava todo o ar para alimentar suas chamas.
O escritor Viktor Klemperer, sobrevivente de Dresden escreveu nos seus diários, publicados como The Lesser Evil: The Diaries of Victor Klemperer 1945-1959:
“Logo se pôde ouvir os zumbidos cada vez mais profundos e mais fortes dos esquadrões se aproximando. As luzes se apagaram, um estrondo nas proximidades… Pausa para respirar, a gente se ajoelhava entre as cadeiras, de alguns grupos vinham gemidos e choro – e nova aproximação, nova angústia pelo medo da morte, novo ataque. Não sei quantas vezes isso se repetiu.”
Outro testemunho chocante foi do escritor americano Kurt Vonnegut, autor do livro Matadouro-Cinco, que era prisioneiro de guerra na cidade e sobreviveu aos bombardeios.
“Dresden era uma grande chama. Essa chama devorou tudo o que era orgânico, tudo que poderia queimar”
Ao todo, cerca de 1800 bombardeiros lançaram sob Dresden 3900 toneladas de bombas incendiárias que destruíram um raio de 39km do centro da cidade.
Número de mortos pelo bombardeio a Dresden
Há um névoa sobre os números reais de mortos em Dresden. Logo após o ocorrido, a propaganda nazista falava em cerca de 250 mil mortos causados pelo ataque aliado por meio da Operação Clarion.
Segundo investigações alemãs, publicadas no jornal “Eidgenosse”, em 3/01/86, houve 480.000 mortos assim divididos:
-37.000 bebês e crianças pequenas;
– 46.000 crianças em idade escolar;
– 55.000 feridos e doentes internados em hospitais, incluindo médicos, enfermeiras e outro pessoal;
– 12.000 pessoal de salvamento;
– 330.000 descritas simplesmente como “homens e mulheres”.
Contudo, estudos mais recentes vem reduzindo drasticamente o número de mortos em Dresden, graças a uma investigação independente encomendada pelo conselho municipal de Dresden em 2010 chegou a um total de no mínimo 22.700 mortes e no máximo de 25.000 mortes.
Independentemente do número correto de mortos, o bombardeio a Dresden foi uma tragédia humana ao vitimar tantos civis na ratoeira que se tornou a cidade de Dresden, além de uma tragédia cultural ao destruir uma das cidades mais bonitas da Europa.
O bombardeio a Dresden foi um crime de guerra ou um alvo legítimo?
Um relatório dos Estados Unidos de 1953 concluiu que o ataque causou enorme estrago ou destruiu 23% das edificações industriais da cidade e quase 50% das residenciais. Mas Dresden era um “alvo militar legítimo”, segundo o documento, além do que, estava dentro do que “estabeleciam as políticas de bombardeio”.
Norman Stone escreveu no Daily Mail:
“bombardeamos cidades alemãs já depois de ser bem claro que tínhamos a guerra ganha, e que Stalin era potencialmente um inimigo terrível. Alguns dos bombardeios foram completamente despropositados. Nos últimos dias da guerra atacamos velhas cidades – onde não havia qualquer alvo militar – somente refugiados, mulheres e crianças.”
Como a cidade de Dresden era muito conhecida pelos ingleses por tratar-se de um destino de férias recorrente, houve muito questionamento no Reino Unido sob esta ação. O próprio Winston Churchill escreveu:
“Parece-me que chega o momento de repensarmos quando o bombardeio de cidades alemãs serve apenas para aumentar o terror, para além de outros pretextos”, escreveu.
Embora nenhum responsável pela Operação Clarion tenha sido condenado por qualquer crime de guerra, aliás, sequer alguém foi levado a julgamento, ao que tudo indica, o bombardeio a Dresden, assim como o bombardeio a Hamburgo, foram desnecessários e, no mínimo, imorais.
Livros e filmes sobre o bombardeio a Dresden